Quem entra num centro de emprego, no
Barreiro, Setúbal ou em Braga (apenas alguns exemplos) depara-se com
muitas cadeiras e gente sentada. Todos aguardam. Alguns, (cada vez
mais) estão ali pela primeira vez, com o impresso passado pelo
ex-patrão para se inscreverem, outros, alimentam a esperança de
sair dali directamente para um emprego. O que os une é o facto de
estarem desempregados.
Estes trabalhadores, estão entre os
milhares que procuram todos os dias um emprego independentemente da
sua profissão, vão em busca de requalificação profissional ou de
orientação sobre o Fundo de Desemprego.
O mesmo se passa em Barcelona, mas na
sede das 3 centrais sindicais (CCOO, UGT E CGT) que, em parceria com
o Governo da Catalunha e as associações patronais, mantêm um
serviço de aconselhamento, cuidam de qualificação e requalificação
profissional e da recolocação no mercado de trabalho. Diariamente,
passam por ali centenas, actualmente milhares de pessoas.
No país vizinho, tal como em muitos
outros na Europa, os sindicalistas preocuparam-se também com as
questões de cariz social, criando cooperativas de habitação,
creches, lares da 3ª. Idade, apostando na formação e nos mais
variados apoios sociais.
Hoje, confrontados com a crise, os seus
filiados têm mais direitos, mais apoios e nem todos são da
responsabilidade dos Governos.
Em Portugal não vemos esta actividade,
essencialmente porque os sindicatos se desviaram dos seus primórdios
fundadores (o mutualismo) e se transformaram na maioria dos casos em
apêndices dos partidos políticos, calendarizando as suas lutas e ou
submissões, conforme os interesses destes.
O mundo mudou, as indústrias mudaram,
e os Sindicatos têm que mudar. Foi assim em boa parte do mundo, mas
em Portugal, no sindicalismo, como nas associações patronais,
ficámos agarrados ao passado.
O Patronato manteve-se o mais
retrógrado de toda a Europa, os Sindicatos os mais marcados
ideologicamente pelo sistema sindical que implodiu com o dito
socialismo real do Leste.
Os Sindicatos desculpam-se e dizem que
adaptar-se é ceder, então mais vale continuar retrógrado.
Mas o problema não é esse, o problema
é encarar de frente os novos sistemas de trabalho, a flexibilidade,
as novas polivalências, as novas profissões, os novos horários de
trabalho respeitando as cargas de trabalho, no princípio de que deve
ser o trabalho a adaptar-se ao homem e não o contrário.
Na Europa, o movimento Sindical há
muito que compreendeu isto, vindo sistematicamente a fechar acordos
colectivos com estas alterações, evitando assim que o Patronato, na
falta de acordos, aplique o que quer e como quer.
O nosso Sindicalismo de "classe"
tem levado demasiado tempo a adaptar-se às novas realidades do
mundo.
Hoje, vemos que apesar de passarem mais
de 4 meses sobre o começo da crise, os sindicalistas continuam a
escudar-se na salvaguarda de postos de trabalho (lindas palavras),
sem contribuírem com soluções, continuam a utilizar a bandeira do
combate pós-despedimento, em vez de apresentarem propostas para
manter o emprego, e quando outros optam pela defesa do emprego,
acusam-nos de cedência.
O Mundo não será o mesmo depois desta
crise, infelizmente, milhares de pequenas e médias empresas irão
fechar, dezenas de milhares de trabalhadores irão conhecer o
desemprego, provavelmente muitas empresas irão encetar processos de
fusão, surgirão novas e mais sofisticadas tecnologias, uma outra
globalização deve nascer, novas organizações do trabalho e
profissões nascerão, e se os Sindicatos não se adaptarem, não se
democratizarem, permitindo a participação de todos os
trabalhadores, promovendo eleições proporcionais tais como nas
Comissões de Trabalhadores, e se não optarem por defender
verdadeiramente os Trabalhadores que representam, em prejuízo de
falsas opções de classe e ligações partidárias, correm sérios
riscos de desaparecerem por falta de credibilidade, logo de
sindicalizados.
Alguns anti-sindicalistas esfregarão
as mãos da alegria se tal acontecer, neste momento já riem do
sufoco económico a que os Sindicatos se deixaram chegar, é no
entanto uma obrigação de todos os que defendem um sindicalismo ao
serviço dos trabalhadores, lutar para que tal não aconteça, lutar
para que das cinzas desta crise nasça um sindicalismo sem amarras,
um sindicalismo aos serviço de todos os Trabalhadores, um
sindicalismo mais de acção do que de reacção.
António Chora
Membro da Mesa Nacional do Bloco de
Esquerda
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