A Confederação de Pais (CONFAP) insiste na proposta da
escola a tempo inteiro, mas curiosamente não se conhecem bem em que condições
está disponível a aceitar a presença das crianças em média 12 horas por dia em
espaço escolar. Como alertou Daniel Sampaio recentemente no Público, "não
estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos
professores (mais uma vez...) que substituam a família?".
Opinião do nosso
leitor José Lopes
É que como pergunta o especialista de psiquiatria, "Se os
pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho...?"
ou seja, adianta mesmo, "Não deveria ser esse um projecto de luta das associações
de pais? Seria certamente uma perspectiva bem mais consequente de luta pelo
direito ao convívio dos adultos com as crianças, em vez da actual realidade da
vida em família, em que os pais estão cada vez com menor relacionamento com os
filhos, situação que o Código de Trabalho vem agravar com medidas como o
"banco" de horas, colocando a vida e tempo de lazer dos trabalhadores à
disposição dos interesses do capital, bem contrárias ao que é ensinado pela
Psicologia e Psiquiatria, como refere Daniel Sampaio: "é fundamental a
vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido
aceitar que esse desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma
instituição como a escola, por melhor que ela seja".
Seria então interessante saber em que condições quer a Confap
a escola a tempo inteiro, porque realisticamente é inaceitável exigir mais esta
"proletarização" no desempenho dos professores, já que, como refere
este especialista na temática da relação escolar: "Perante o caos ou o vazio de
muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela
burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão
do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é
um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos
nossos jovens".
Para que a escola a tempo inteiro não se transforme num
inevitável armazém de crianças, é preciso contrariar a dinâmica do Governo e do
Ministério da Educação para a sua desresponsabilização na garantia de uma
escola pública capaz de, com dignidade para com os seus profissionais, corresponder
através de áreas especificas extracurriculares, como animadores
sócio-educativos ou culturais que não têm sido reconhecidos nem valorizados ao
serviço de tais pretensões de uma escola mais adequada aos novos tempos de
exploração laboral. Ou querem os pais muitas das soluções precárias que se
vivem já hoje com os prolongamentos escolares, as actividades
extra-curriculares, garantidas em cada ano pela instabilidade dos docentes,
pela sua extrema precariedade profissional, pelo recurso a desempregados (POC's)
como auxiliares ou tarefeiras com 2 ou 4 horas, como se estes prolongamentos
não passassem simplesmente da tão reclamada guarda das crianças, que cada autarquia
também encontra múltiplas formas de se desresponsabilizar, entregando tais
serviços a outras instituições ou entidades que ainda procuram o inerente lucro
com recurso á inevitável mão de obra barata, precária e temporária, mas
insustentável nesta época de crise e de poucos recursos das famílias chamadas a
suportar pelo menos parte destes custos.
Que qualidade de serviço público reclamam afinal os pais e a
Confap para os filhos dos portugueses, sem recursos para o "negócio" em
expansão dos centros de estudos na ausência de respostas públicas, beneficiarem,
não de politicas propagandísticas e casuísticas que o Governo empurra para as
câmaras e estas para satisfação de lobis, mas de opções coerentes que
dignifiquem e respeitem saudavelmente a vida em meio escolar, dos alunos e dos vários
profissionais, para que as crianças consigam consolidar laços afectivos com
adultos, que, como refere Daniel Sampaio, "por falta de disponibilidade
destes..." não têm sido possíveis tanto na escola como em casa.
José Lopes (Ovar)
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