Baralhar e voltar a dar, pois claro.
1. Reforma do sistema bancário e OCDE fará a lista dos
paraísos fiscais que não cumprem as regras da transparência
Levantamento do segredo fiscal significa que deixam de ser
paraísos judiciais, mas não significa que deixem de ser paraísos fiscais. É o
reinado dos "offshores à Madeira". Afinal, para quando a eliminação do sistema
financeiro sombra? Será difícil pedir que passem a integrar um sistema
financeiro onde se cobram impostos e se registam os movimentos da banca?
Passinhos de bebé...
2. Recapitalização do FMI
O FMI, cuja sobrevivência depende da sangria económica de
uns, volta a encher o balão. Não há mudanças na estrutura de voto nem nas
relações de poder no interior da organização; não se muda a receita; mantém-se
a ortodoxia neoliberal. Em nome da ‘ajuda' do FMI, cumprem-se as regras do FMI:
contracção salarial e reforço das desigualdades. Sabemos por experiência
própria os custos da intervenção do FMI: mais para a política neoliberal, menos
para a intervenção Estatal. Ou não foi isso que se andou a fazer? Ou não foi
isso que produziu estes resultados? Resolve-se o problema recapitalizando-se
uma das instituições que tem feito parte dele.
3. Comércio internacional, liberalização das trocas e
criação de fundo de garantia às exportações e importações
Liberalização do comércio? Para quem? Para as economias
emergentes, para os grandes exportadores. Mau para quem? Para quem não está no
G20 e para os países que nesta divisão são sobretudo importadores.
4. Não "premiar o fracasso", regular os prémios dos gestores
Nada a apontar do ponto de vista dos princípios. Os Estados
assumem-se como os árbitros do "bom capitalismo"! O problema não é o
"fracasso" de determinadas gestões, é a imoralidade do sistema de
acumulação capitalista.
5. Ajuda aos mais pobres
FMI poderá vender parte das suas reservas de ouro para
financiar a ajuda ao desenvolvimento dos países mais pobres, "os países ricos
não passarão ao lado" dos que mais necessitam. É quase comovente, mas não
engana. De repente, os países ricos descobriram que precisam de mais mercados.
Um sinal mais importante do G20 seria um compromisso dos próprios Estados em
cumprirem as metas definidas pelas Nações Unidas - e que esses Estados
ratificaram - de dedicarem 0,7% do PIB em Ajuda Pública ao
Desenvolvimento. A um ano do prazo para o cumprimento das metas não seria pedir
muito. Andamos pelos 0,45% e a tendência é decrescente. Em Portugal andamos
pelos 0,21 ou 0,22%. O cumprimento da meta dos 0,7% implicaria que o Estado
português tivesse de despender metade do valor que a Caixa Geral de Depósitos
avançou no caso BPN.
O problema da crise é o da vida das pessoas. A vida das
pessoas deveria ter sido o centro desta Cimeira. O sinal político forte desta
Cimeira deveria ter sido a justiça mundial.
O G20 é menos mau do que o G8 ou o G7, mas chapéu-de-chuva é
o mesmo, só um bocadinho mais largo. A esmagadora maioria do mundo continua de
fora.
Angela Merkel ficou contente porque as "duras" divergências
entre aqueles que defendiam um plano de estímulo da economia e os que defendiam
a regulação dos mercados financeiros se resolveram devido a "um verdadeiro
espírito de camaradagem". Foi esta camaradagem que nos conduziu ao ponto que
chegámos. É esta camaradagem que é preciso perturbar. O mundo não se resume a
este círculo de "camaradas" e nem pode ficar dependente deles.
Marisa Matias,
socióloga, texto publicado no blogue Ladrões de Bicicletas
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