"Eles" ao longo dos anos pensaram
sempre que a manifestação era sua - mas é e deve ser de todos os
trabalhadores. Foi assim como grande jornada de resistência antes do
25 de Abril e nas suas raízes históricas. Era de todos e para
todos. Continuou assim depois: é de todos e para todos. O sectarismo
no 1º de Maio e na luta dos trabalhadores só os enfraquece. E os
trabalhadores não se podem dar ao luxo da fragilidade ou da divisão,
têm que estar concentrados na resposta unida e forte contra as
políticas que os atingem.
Por isso, quem não aprendeu coisa
nenhuma com o passado pode considerar que a manifestação tem
proprietários, mas não tem. Tem organizadores, responsáveis,
sindicatos e movimentos que convergem e que mostram a força que tem
que estar unida. Não há proprietários do mundo sindical.
A manifestação, que devia ser também
festa, a festa dos trabalhadores, a festa que também é luta, mas
luta de protesto contra as políticas selvaticamente capitalistas que
a nível mundial que desprezam as pessoas e também contra as
políticas liberais levadas a cabo pelos Governos da Direita e do
Partido Socialista, que em conjunto ou separados governam Portugal há
mais de 30 anos.
Infelizmente, em vez de festa,
assistimos a um grupo de pessoas que da Democracia tem uma noção
proprietária e por isso não entendem que em Democracia o protesto e
a festa do 1º de Maio se faz com todos os trabalhadores e não só
com "eles". O sectarismo não tem lugar nesta festa que é da
gente que protesta e que sente a gravidade da crise económica, da
recessão, do desemprego, da pobreza, que protesta contra o Código
do Trabalho, a violência do governo contra os professores, a
pobreza. A democracia fez-se graças a muitos que lutaram antes e
depois do 25 de Abril para a consagrar como regime. O direito à
indignação, é um direito de todos, eu pessoalmente discordo de
muitas das políticas do Partido Socialista, contesto-as, em
comícios, em Plenários de Trabalhadores, na luta social e por
escrito onde me deixam. E assim continuarei. Mas porque os combato é
que recuso o sectarismo e a violência ou a ameaça.
Sempre tenho assistido a delegações
do PS, encabeçadas nomeadamente por Vítor Ramalho, a aparecerem nas
manifestações do 1º de Maio e a cumprimentarem a direcção da
CGTP e sempre assisti aos que de política só vêem o seu umbigo e
lançam uns assobios, mas nunca esperei que 35 anos depois de Abril,
haja ainda quem não saiba quais são os limites da crítica. É
certo que há revolta das pessoas, a situação é grave, o
desemprego é enorme e que em tudo isto o capitalismo e os que o
apoiam são culpados. Isso não desculpa nenhum sectarismo.
Eu próprio já fui alvo deste
sectarismo em manifestações, supostamente "deles", como
aconteceu em Guimarães, na manifestação contra a cimeira europeia,
só porque estava identificado com roupa do partido de que sou
militante, quando alguns "deles", grande manifestação de Lisboa
aquando do Tratado de Lisboa, até as suas bandeiras partidárias
levavam. Felizmente, esta não é a atitude da maioria dos
trabalhadores e cidadãos que participam nas manifestações da CGTP.
Pode-se certamente discutir porque é
que Vital Moreira, candidato "independente", chefia uma delegação
do PS, mas essa decisão é da sua inteira responsabilidade. Por
isso, pessoalmente, logo na manifestação do 1º de Maio, comuniquei
aos dirigentes da CGTP e a Vítor Ramalho o meu protesto contra o
sectarismo e contra as agressões. A direcção do Bloco de Esquerda,
pela voz de Miguel Portas presente na manifestação, também não
esteve com meias palavras e condenou os incidentes com toda a
clareza.
Não concordo com os que atribuem a
responsabilidade e exigem pedidos de desculpas do que aconteceu ao
PCP e à CGTP enquanto organizações político-sindicais, e
pessoalmente, do PCP não espero nada, pois a manifestação não era
deles, mas à CGTP, que foi prejudicada pela confusão criada pelos
incidentes. Na luta sindical futura, a par de ideias e respostas para
sair da crise e da contínua condenação das politicas que agravam a
vida das populações, é preciso condenar o sectarismo para que não
se repita nunca.
Em 2009, 35 anos depois do primeiro 1º.
de Maio festejado em Liberdade, o que ficou para memória futura,
para os historiadores que um dia sobre estas comemorações se
debrucem, não são os milhares de trabalhadores que se manifestaram
contra as medidas capitalistas nacionais e internacionais, contra o
grande colapso do capitalismo, tampouco ficará na memória os
discursos dos sindicalistas colaborando, ou melhor, exigindo outras
políticas e mais justiça social.
Porque eles não esquecem nada, mas não
aprendem coisa nenhuma, o que ficará em todos os documentos
escritos, será a ameaça sectária e caceteira daqueles que
apareceram em todos os jornais e telejornais ofuscando a
manifestação. O movimento sindical precisa de dar a volta a esta
situação que o ameaça e reforçar-se na unidade, no respeito, na
combatividade.
Antonio Chora Delegado sindical do
STIMMS e Coordenador da Comissão de Trabalhadores da VW Autoeuropa
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