Já nos fomos habituando
à insólita agenda que nos é fornecida anualmente em cada silly
season. Mas até tínhamos razões para esperar que este ano
seria diferente. A proximidade de dois actos eleitorais fazia crer
que seria menos mau. Mas não. Em vez do debate político abafar a
silly season, foi a silly season que contaminou o
debate político. Brutal, não é? O presente pseudo-caso das escutas
a Belém é uma verdadeira pérola neste domínio. Merece, sem
dúvida, um silly award.
Começou com uma acusação
socialista de que existiriam assessores do presidente a colaborar na
elaboração do programa do PSD. Uma fonte anónima de Belém
respondeu que se o PS sabia de tal informação é porque
possivelmente o palácio de Belém estava sob escuta. Uma triste
declaração que, dados os seus contornos, devia ter sido desde logo
assumida como tal. Mas nem pensar. Foi levada a sério por muitos. O
Público fez manchete com esta questão lançando a dúvida. Os
outros órgãos de comunicação replicaram.
Na quarta-feira, a capa
do i falava em "guerra total" entre Belém e São
Bento. No seu interior, o novo diário dava-se até ao trabalho de
elucidar os leitores com o tipo de gadgets ao estilo 007
que são usados para as escutas: desde um mini-GPS que pode ser
colado num carro, a câmaras num relógio ou num botão de punho, até
uma cadeira que escuta e onde as pilhas são colocadas num dos pés
(reparem bem no grau de pormenor). Lindo!
Como é evidente, é
lamentável que a comunicação social tenha levado a sério esta
situação sem ter colocado, desde o primeiro minuto, a hipótese de
se tratar de algo perfeitamente ridículo. Mas é ainda mais
lamentável que uma fonte anónima de Belém tenha dado origem a esta
histórica trapalhada e o Presidente da República, à hora a que
escrevo este texto, ainda não tenha vindo a público esclarecer a
questão. Pelo segundo ano consecutivo, Cavaco consegue um
"invejável" protagonismo no silly Agosto. Uma salva de palmas,
sff!
João Ricardo
Vasconcelos, autor do blogue Activismo
de Sofá
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