Cavaco Silva vetou a nova lei das
uniões de facto. Imagino José Manuel Fernandes e João Carlos
Espada a rejubilarem do alto dos seus «valores» e da sua «moral».
Na verdade, nada surpreende neste veto. Cavaco é duplamente
conservador: na economia e nas questões sociais. E não hesita em
impor, mesmo nas matérias mais íntimas e pessoais, a sua visão
particular do mundo.
A pobreza, para o Presidente,
resolve-se com caridade, responsabilidade social das empresas e
quermesses. Façam os ricos festas e festanças, diz Ferreira Leite,
herdeira do mesmo património ideológico. Cavaco assinará por
baixo. Mas não se fale de redistribuição sistemática e estrutural
da riqueza...
Paridade, longe dele. Investigação em
células estaminais, idem. Legalização do aborto foi pecado. Na
raiz destas atitudes mora um Portugal católico, interior e rural. Um
país onde a mulher, ainda que instruída, jamais poderá trocar de
papéis sociais com o homem; um país onde a Família é prescritiva
e não associativa; um país onde a orientação sexual hegemónica é
a heterossexualidade normativa. Um país onde as uniões de facto são
encaradas como sub-casamentos, opção que deve castigar os
companheir@s que se juntaram por não terem preferido o sacrossanto
casamento católico. Por isso, que sofram na pele a perda da casa
comum onde viviam, por ocasião de morte de um/a deles/as. Que sofram
as penúrias da falta de meios de sobrevivência.
Este é o Portugal de Cavaco.
Felizmente, em desaparecimento mas ainda a merecer combate. O que nos
obriga, desde já, a juntar forças por uma alternativa presidencial
quando a questão se colocar.
João Teixeira Lopes
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