As
máscaras são adereços milenares no confronto político. O actor
político utiliza-as consoante a cena em que se encontra, consoante a
forma como gostaria de ser visto e entendido pela plateia, consoante
o que ele considera que o público melhor apreciará naquele dado
momento da sua actuação. A utilização de máscaras é inerente ao
próprio fenómeno de comunicar. E se assim é na vida do dia-a-dia,
é-o de forma naturalmente mais intensa na política.
A
contemplação das máscaras em política é uma actividade
interessante. A criatividade dos diversos actores e sobretudo a sua
capacidade de se adaptar aos diversos cenários consegue ser uma arte
digna de aplausos. Mas é nos períodos de campanha e pré-campanha
eleitoral que esta arte melhor pode ser apreciada. E se na oposição
alguns líderes não deixam de ser arrojados nas máscaras a que
recorrem, é no partido que se encontra no poder e que procura a
reeleição que a mestria assume traços hilariantes.
A
forma e a velocidade com que Sócrates tem vindo a mudar de máscaras
nos últimos tempos é formidável: ora temos um Sócrates arrogante,
ora temos um Sócrates humano e delicado; ora temos um Sócrates do
business,
ora temos o Sócrates estatal, ora temos um Sócrates a transbordar
de optimismo, ora temos um Sócrates cauteloso; ora temos um Sócrates
da terceira via, ora temos o Sócrates esquerdalho, ora temos o
Sócrates zangado, ora temos o Sócrates sensível. Temos tido um
Sócrates pró menino e prá menina, um Sócrates à medida de cada
português. Notável, sem dúvida.
Como
é evidente, todos somos livres de apreciar máscaras, de nos
divertirmos com estes bailes de máscaras e de acreditarmos nas
máscaras que quisermos. Eu, por exemplo, julgo que por defeito de
formação (Ciência Política), aprecio particularmente esta arte ao
ponto de aplaudir a mestria de diversos actores. Sócrates merece-me
uma particular consideração neste domínio.
Só
há aqui um pequenito senão. É que estes meus aplausos são
inversamente proporcionais à seriedade que atribuo aos actores em
causa. São uma espécie de aplausos dirigidos a ilusionistas.
Achamos-lhes graça precisamente pela capacidade que demonstram em
iludir convictamente tudo e todos. Verdadeiros artistas, sem dúvida.
João
Ricardo Vasconcelos, autor do blogue Activismo
de Sofá
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