O
novo cenário de maioria relativa cria todo uma série de novas
responsabilidades no jogo político. O partido no poder terá de
partir para a negociação e a oposição, por seu turno, também não
se pode dar ao luxo de tudo negar. Será uma legislatura de
interessantes jogos de cintura. É bom que cada força política
pratique bem estes domínios porque os passos em falso sairão caros.
Sócrates
tenta agora apresentar-se com uma nova face, apostando tudo na
eventual falta de memória dos portugueses. Com um passo de mágica,
quatro anos e meio de governação austera deram lugar a uma maior
sensibilidade aos problemas sociais, a uma maior abertura ao diálogo
e a todo um lado humano e simpático que até agora tinha sido
escrupulosamente escondido dos portugueses. Que marotice...
Mas
se todos sabemos que considerar este governo como "novo" é no
mínimo irónico, não é menos verdade que no início de uma nova
legislatura, saída de uma série de rondas eleitorais, a
maioria do eleitorado exige alguma estabilidade governativa. E
dificilmente encarará com bons olhos uma oposição que não
conceda, seja em que moldes for, algum espaço a quem acabou de
assumir funções.
Como
é evidente, o governo manterá a arma da vitimização sempre à
vista. No fundo, a estratégia do "Não me toques senão eu
caio" e do "deixem-nos trabalhar". E estranho seria
se assim não acontecesse. À boa oposição competirá demonstrar
que não basta ao governo ter a postura superficial do diálogo e
imediatamente a seguir partir para a vitimização. Competirá
demonstrar que está pronta para qualquer diálogo e discussão da
mesma maneira que está pronta a desmascarar falsas posturas e a
chumbar más políticas.
Será
uma legislatura recheada de jogos de cintura e outras habilidades
políticas. Mais do que atacar abertamente, cada força política
terá de ser inteligente e demonstrar as falhas e incongruências dos
seus adversários. Um cenário que terá o seu quê de espectáculo
emocionante. Mas que possui um pequeno pormenor que importa não
esquecer: joga-se o futuro do país.
João
Ricardo Vasconcelos,
Politólogo, gestor de
projectos e autor do blogue Activismo
de Sofá
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