Infelizmente
o caso Face Oculta é apenas mais um dos que vão povoando a agenda
com grande regularidade. Encaixa-se na perfeição num perfil que já
é bem conhecido dos portugueses: 1) envolve promiscuidades entre
alta política e interesses económicos, 2) envolve figuras do PS
e/ou do PSD (e/ou o CDS, importa não esquecer) e, para terminar em
grande; 3) os responsáveis dificilmente serão encontrados, salvo um
ou outro que acabará por assumir as culpas por todos os males
ocorridos (uma espécie de Vale e Azevedo de serviço, portanto).
É
todo um enredo a que já nos fomos habituando. Uma espécie de guião
novelesco batido que, vá-se lá saber porquê, persiste em nos
entrar pela casa dentro dia sim, dia sim. Da Face Oculta ao BPN, do
Freeport aos Submarinos, do Portucale ao Bragaparques, eis apenas
alguns exemplos dos casos que nos foram sendo oferecidos em prime
time
nos últimos anos. Verdadeiros blockbusters
de gosto duvidoso.
Como
é natural, sempre que surgem estes casos, vemos os responsáveis de
determinados partidos a manifestarem-se surpresos com os tráficos de
influências, com as redes clientelares, com as promiscuidades entre
o público e o privado. "Quem diria? Ninguém conseguiria prever."
Admitem até desenterrar
pacotes de combate à corrupção
que chumbaram sem hesitar há pouco tempo atrás. E é então que
percebemos que também estas reacções são uma parte essencial do
enredo novelesco.
Até
porque quem frequenta os meios da governação, os meios da
administração pública e os meios empresariais próximos do Estado
nunca ouviu falar de jeitinhos, de mexer cordelinhos, de amigos, de
"hoje pagas tu, amanhã pago eu". Que ideia... Nada disso, pá. A
malta é integra e não faria nem admitiria ser conivente com coisas
destas. Que ideia, pá...
Eis
o jogo de imobilismos e de enganos mútuos, do "eu sei que tu sabes
que eu sei", do finge que não vê e do finge que está
surpreendido, que nos vai sendo servido todos os dias, todas as
semanas. É todo um enredo de contornos decadentes protoganizado pelo
good old
bloco central de interesses. Enfim... É deprimente. Tirem-nos deste
filme. Alguém mude o canal, sff.
João
Ricardo Vasconcelos, Politólogo,
gestor de projectos e autor do blogue Activismo
de Sofá
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