O ecossistema do Golfo do México pode sofrer danos irreparáveis.
Especialistas afirmam que o derrame de petróleo é maior do que a BP
e as autoridades dos EUA dizem.
Por Matthew Cardinale, da IPS
Atlanta, Estados Unidos, 19/5/2010 - O ecossistema do Golfo do
México pode sofrer danos irreparáveis após a explosão da torre de
perfuração da British Petroleum (BP) que provocou o maior derrame
de petróleo na história da região, alertam especialistas. A
explosão, ocorrida no dia 20 de Abril, provocou uma racha que
liberta cinco mil barris (795 mil litros) de petróleo diariamente,
segundo as autoridades dos Estados Unidos e da BP, mas cientistas e
activistas afirmam que a quantidade é muito superior e que pode
chegar aos 70 mil barris (11,13 milhões de litros) por dia.
A BP anunciou Terça feira que conseguiu introduzir um tubo dentro
da racha, o que permite canalizar o petróleo que estava a derramar,
mas as autoridades norte-americanas asseguram que é apenas uma
solução de emergência. O poço está localizado a cerca de 1,5 mil
metros de profundidade, o que representa obstáculos formidáveis
para acabar com o derrame no mar. No longo prazo, calcula-se que o
acidente ofuscará o derrame de 11 milhões de galões (41 milhões
de litros) provocado pelo petroleiro Exxon Valdez em 1989, no Alasca,
o maior desastre petrolífero na história dos Estados Unidos.
Ainda não se sabe quanto petróleo pode ser derramado no Golfo
antes de o derramamento ser completamente contido. A Agência de
Protecção Ambiental dos Estados Unidos diz que as amostras
recolhidas no dias 1º e 2 deste mês, na costa da Luisiana,
continham químicos derivados do petróleo. "Estes resultados
continuam a indicar que a qualidade da água não representa um risco
maior para a vida aquática, como os peixes e moluscos", disse a
Agência no dia 4.
Mas Riki Ott, uma toxicologista que escreveu dois livros sobre o
derrame do Exxon Valdez, acredita que a situação é muito pior do
que as autoridades afirmam. A "BP tenta dizer que estamos a ganhar
porque o petróleo não chegou à costa. Nada mais longe da verdade.
Estamos a perder, com tanto petróleo tóxico a derramar em cada dia
e que está a ser atacado com dispersantes, outro químico tóxico",
ressaltou. A companhia informou que usou cerca de 400 mil galões
(1,51 milhões de litros) de dispersante, que fragmenta o petróleo,
e prepara mais 805 mil galões (três milhões de litros).
"Este petróleo disperso é extremamente tóxico para as formas
de vida jovens", afirmou Ott à IPS. A "BP diz que não é
tóxico, que não representa um problema maior. Isso é muito
enganoso porque os únicos dados sobre a toxicidade se baseiam numa
experiência na qual são mergulhados camarões e gobios adultos em
dispersantes ou petróleo, durante 48 ou 96 horas, e são contados
quantos morrem ou vivem", disse Ott. "No entanto, as formas de
vida jovens são mais sensíveis aos químicos tóxicos do que as
adultas. No Golfo há uma exposição contínua. O petróleo se
desloca" mais de 1,6 quilómetros na água, acrescentou.
Estudos de arenques mortos após o derrame do Exxon Valdez
demonstraram que os parasitas que habitualmente viviam no estômago
dos peixes migraram para o tecido muscular a fim de evitar a
exposição tóxica, enfraquecendo, assim, o sistema imunológico e
gerando problemas reprodutivos. "Cerca de 99,9% das ovas de arenque
expostas ao petróleo morreram", explicou Ott, destacando que os
ecossistemas da plataforma continental e do oceano aberto estão
muito ligados.
"O camarão criado nos pântanos e mangues, quando migra para o
mar converte-se em alimento do mero" e de outras espécies, disse
Ott. "É muito petróleo e muito rápido para não repercutir com
força em gerações de vida silvestre presentes na água. As aves
que comem moluscos, os mamíferos marinhos estão a adoecer e morrer.
Há pássaros que alimentam os seus filhos com pescados cheios de
petróleo, o que atrasa o seu crescimento", acrescentou.
Também corre risco o sustento das famílias que vivem da pesca. A
BP indemnizou com um máximo de 5 mil dólares os pescadores e outros
trabalhadores que reclamaram individualmente por perdas económicas.
Calcula-se que as operações de limpeza e os danos causados pelo
derrame custarão cerca de 4 mil milhões de dólares, embora essa
quantia possa ser superior. O governo dos Estados Unidos afirma que a
BP e outras empresas com responsabilidade no derrame devem pagar
integralmente a limpeza e os prejuízos. O presidente Barack Obama
pretende conseguir 118 mil milhões em fundos de emergência para os
custos imediatos relacionados com o derrame, que a BP reembolsaria ao
governo.
Orissa Arend, da cidade de Nova Orleães, na Luisiana, fronteira
com o Golfo do México, disse à IPS que a maioria dos habitantes
continua a consumir o pescado local, porque 80% dele procede de
regiões que ainda não foram afectadas pelo derrame. Os 20%
restantes vêm de unidades processadoras de pescado que suspenderam a
produção. A população também se preocupa com a iminente
temporada de furacões. "As pessoas temem que na próxima passagem
de um furacão, em lugar de inundações apenas de água, tenhamos
inundações de água misturada com petróleo", disse Arend.
IPS/Envolverde
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