A África pode perder metade da sua
produção de alimentos nos próximos 25 anos se não forem travadas
as emissões de gases-estufa, alerta Gwynne Dyer, analista
geopolítico canadiano Por Chryso D´Angelo para a IPS.
Nova York - Os países mais próximos
da linha do Equador são os que mais vão sofrer com as alterações
climáticas, segundo o analista geopolítico canadiano Gwynne Dyer,
autor de um livro que explora as calamidades que serão causadas pelo
aumento da temperatura no mundo.
"Climate wars: the fight for survival
as the world overheats" (As guerras do clima: a luta pela
sobrevivência enquanto o mundo aquece) avalia o impacto desse
aumento no fornecimento de alimentos, nos sistemas de saúde e nos
padrões migratórios, entre outros aspectos.
A África será a mais prejudicada,
disse Dyer à IPS, acrescentando que esse continente pode perder
metade da sua produção de alimentos nos próximos 25 anos. A teoria
de Dyer está baseada em entrevistas com cientistas de renome
mundial, retrata um funesto panorama de fome, pandemias e guerras se
não forem travadas as emissões de gases-estufa.
"Alguns poucos graus fazem uma grande
diferença. Pensemos nessa diferença como ter ou não ter febre. Uns
poucos graus a mais podem ser mortais para o nosso organismo",
explicou à IPS, com quem conversou sobre como as alterações
climáticas ameaçam o planeta.
Boa parte do seu livro enfatiza a
escassez de alimentos. Como a perda de cultivos vai afectar os países
em desenvolvimento?
GWYNNE DYER: São duas as regiões
afectadas em termos de fornecimento alimentar: o trópico e o
subtrópico. No trópico chove muito. A mudança climática não
trará falta de água, mas causará mais calor. Os principais
cultivos (arroz, trigo, milho), que não são nativos dessa região,
vão-se perder se a temperatura aumentar entre dois e três graus
acima dos 35 graus, mesmo por poucas horas, durante o seu período de
crescimento, que demora três semanas. Os cultivos nativos
(batata-doce, sorgo) podem sobreviver, mas não vão alimentar tanta
gente.
O que acontecerá com os cultivos de
alimentos nos subtrópicos?
Estas grandes áreas de cultivo de
grãos neste momento são semidesérticas. Se tirarmos a água, o
solo ficará muito seco para a agricultura.
O derretimento das geleiras não
compensará a perda de água?
As geleiras levarão pelo menos cem
anos para derreter.
No seu livro, diz que as pessoas que
sofrem fome emigrarão para outros países.
Isso já acontece. Um quarto da
população do Zimbabué emigrou para a África do Sul devido à
escassez de alimentos, causando distúrbios pelo argumento de que
tiram o trabalho dos sul-africanos. O que acontecerá quando pessoas
de todos estes países forem para outras partes para se alimentar? A
resposta é que os países vão fechar as suas fronteiras como
mecanismo de sobrevivência.
Como a mudança climática é um
obstáculo à atenção com a saúde?
Geralmente as novas doenças surgem nos
trópicos e subtrópicos, onde as sociedades de camponeses vivem com
os seus animais. A escassez de alimentos levará a Estados falidos.
Onde não há governo, não há infraestrutura sanitária, nem um
sistema de saúde que note os primeiros sinais de alerta de que está
sendo incubada uma pandemia. Se uma doença se propaga, pode
introduzir-se na população e seria impossível detê-la antes que
se soubesse o seu nome.
Há algum país seguro diante dos
efeitos da mudança climática?
Os países mais afastados do Equador,
como Estados Unidos, Canadá e Rússia, terão melhor desempenho.
O que diz dos resultados da 15ª
Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas
sobre as Alterações Climáticas, de Dezembro, em Copenhaga?
Foi um descarrilamento de comboios: 192
países presentes, mas isso não é útil na hora de negociar. É
preciso escolher 20 países que têm a maior parte dos alimentos e a
maior parte do consumo, fazê-los assinar um acordo e conseguir a
adesão dos demais.
Quais países deveriam tomar a
dianteira?
Os "velhos países ricos" (Estados
Unidos, Rússia, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Canadá, Japão) e
os que agora estão em rápido desenvolvimento (Brasil, China,
Índia). Mas eles não entram em acordo sobre como compartilhar a
carga. Os "velhos países ricos" geram 80% do dióxido de carbono
emitido pelas actividades humanas e que causam o problema.
Qual é a solução?
Os "velhos países ricos" devem
travar as suas emissões e ajudar as nações emergentes a aumentar a
sua produção com energias limpas, como a eólica e a solar, com
centrais não alimentadas com carvão. É a dívida que temos de
pagar pelo que fizemos.
20/5/2010
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