Há dois anos nenhum dos candidatos à Câmara de Lisboa se preocupou com o problema da travessia do Tejo e da estação terminal dos comboios TGV em Lisboa. Este problema, que se relaciona com o problema do futuro aeroporto de Lisboa (NAL) e com o traçado da futura linha TGV para o Porto, tem uma importância gigantesca para o futuro da cidade e da sua Área Metropolitana.
É fundamental que os candidatos às próximas eleições para a Câmara de Lisboa se interessem por ele. Serão autistas se o não fizerem.
Opinião de António Brotas
Para facilitar o debate sobre este assunto são a seguir apresentadas as propostas conjuntas - que julgo hoje existirem - para os 3 problemas referidos. As fontes são os sites do MOPTC, NAER, REFER, RAVE, CP e ADFER e informações diversas colhidas na Imprensa e em encontros e conferências em que participei, ou a que simplesmente assisti.
No final, são apresentados alguns breves comentários e uma proposta de actuação para os tempos mais imediatos, que talvez possa ser consensual.
Proposta A (Que julgo ter sido a proposta do MOPTC até 2005)
1-Travessia do Tejo por uma ponte para o Barreiro destinada aos TGV para Badajoz, Algarve, Porto, para um schuttle para o aeroporto da Ota e ainda para uma circular ferroviária.
2- Linha TGV para o Porto considerada prioritária a passar na Ota e, depois, entre as serras dos Candeeiros e de Montejunto.
3- Novo aeroporto na Ota.
Proposta A' (Que julgo ser a proposta do MOPTC depois de 2005)
Semelhante à anterior mas com a variante da ponte para o Barreiro não servir para os trajectos para o Porto e para a Ota. Para este fim é prevista uma entrada para os TGV a Norte de Lisboa pelo Lumiar.
No final de Março foi precisado que a estação terminal seria nas Olaias.
Proposta A" (Proposta do Engenheiro Pompeu Santos)
1- Semelhante à proposta A com a estação terminal igualmente nas Olaias.
2- Não sei exactamente qual é o traçado que propõe para o TGV para o Porto.
3- Novo aeroporto na margem Sul.
Proposta B (Proposta do Engenheiro Arménio Matias)
1-Travessia do Tejo por um túnel para o Montijo destinada aos TGV para Badajoz, Algarve, Porto, e ainda para uma circular ferroviária. Estação terminal em Lisboa nas Olaias.
2- Linha TGV para o Porto a utilizar o túnel para o Montijo e por um trajecto possivelmente ainda a estudar.
3- Novo aeroporto na margem Sul.
Proposta B' (Proposta do Arquitecto José Tudela)
Semelhante ao do Engenheiro Arménio Matias, mas com a variante dos TGV partirem de Santa Apolónia paralelamente ao Tejo e entrando num túnel de modo a ganharem profundidade, inflectindo depois para a direita para atravessarem o Tejo na direcção do Montijo, inicialmente por um tunel e depois por uma ponte.
Proposta C (A proposta que a meu ver teria sido a melhor)
1- Entrada dos TGV em Lisboa pela actual ponte Vaso da Gama, que teria sido rodo-ferroviária, com a estação terminal na antiga gare de triagem de Beirolas, que a CP vendeu à EXPO que construiu lá uma urbanização.
2- A linha TGV para o Porto seguiria pela margem Sul até perto da Chamusca atravessando aí o Tejo e passando perto do Entroncamento, que guardaria as suas características de centro ferroviário.
3- Novo aeroporto na margem Sul.
Proposta C' (Proposta que julgo ser neste momento a preferível)
1- Saída dos TGV de Lisboa por Sacavém seguindo paralelamente ao Tejo (possivelmente entre o IC2 e o rio) até perto de Alhandra, para aí, depois de ganharem altura, passarem num viaduto diante da vila de modo a não perturbarem a vida ribeirinha para, depois, inflectindo à direita, atravessarem o Tejo na direcção do Porto Alto sem passar sobre a Reserva Ecológica do Tejo.
1'- Estação de partida na Gare do Oriente, o que é possível desde que se reserve uma zona de manobras a Sudoeste.
2- Linha TGV para o Porto pela margem Sul, até perto da Chamusca.
3- Novo aeroporto na margem Sul.
Proposta C'' (Variante da anterior)
1-Passagem dos comboios em Alhandra e Vila Franca por um túnel com cerca de 8 km, ou utilização de algum processo que permita quadruplicar as vias sem prejudicar demasiado a vida à superfície, com a travessia do Tejo depois de Vila Franca
2-TGV para o Porto depois de Vila Franca pela margem Norte ou pela margem Sul.
3- NAL na Ota, ou na margem Sul.
Proposta D (Proposta apresentada no PROTAML elaborado pela CCRLCT, creio que em 2004)
1- Os TGV vindos de Badajoz inflectem a meio do Alentejo para ir passar o Tejo acima da Azambuja, para passarem na Ota, para depois virem até Lisboa, entrando pela margem Norte não sei bem por onde.
2- Não conheço o trajecto proposto para TGV para o Porto.
3- NAL na Ota. (O trajecto referido em 1 permitiria aos passageiros vindos de Madrid por TGV irem ver o aeroporto onde tinham decidido não aterrar).
PROPOSTA
Os estudos necessários para decidir sobre estes problemas estão muito atrasados. É uma questão que pode ser documentada noutra ocasião. O que é no entanto neste momento evidente é que não conseguiremos chegar, neste ano de 2007, a soluções consensuais como seria desejável, sobre nenhum deles.
Há, no entanto, uma proposta, que parece poder ter uma concordância generalizada e que Portugal pode apresentar na Cimeira Ibérica do final do ano:
a da construção tão rápida quanto possível de uma linha TGV mista (para passageiros e mercadorias) de Badajoz ao Pinhal Novo (estação da Fertagus).
Uma vez construída, esta linha tras-nos vantagens imensas: as indústrias de Setúbal e a Plataforma Logística prevista para o Poceirão ficam ligadas à rede de bitola europeia; a ligação ferroviária por TGV de Madrid a Lisboa, embora ainda não completa, pode começar a funcionar. Por último, depois de tantos anos a discutir, podemos ter em vias de realização um projecto concreto, importantíssimo para o País, fácil de realizar e relativamente barato.
Penso que nos podemos empenhar em dar este passo importante.
António Brotas
(Depois, podemos dedicar um ano ou dois a discutir seriamente o problema da travessia do Tejo e da entrada dos TGV em Lisboa, para o que são necessários estudos que ainda não estão feitos. As Câmaras de Lisboa, Barreiro, Montijo e Vila Franca devem estar muito atentas e participar activamente nesta discussão. Mas, neste momento, o que pode ser discutido nesta campanha em Lisboa é a metodologia para abordar o assunto.
Simultaneamente, o País tem de ponderar as vantagens e os inconvenientes e dos possíveis traçados do TGV para o Porto, que são basicamente dois: o que passa no Entroncamento e o que passa entre as serras dos Candeeiros e de Montejunto depois de passar na Ota. Este problema, no entanto, não é um problema de interesse directo para Lisboa.
No que diz respeito ao NAL, não parece ser, igualmente, assunto para abordar nesta campanha eleitoral em Lisboa. O problema central é o seguinte: dos argumentos apresentados em 1999 contra a construção do aeroporto no Rio Frio, o único que merece ser considerado é o da conservação dos aquíferos subterrâneos. Há 3 semanas, o Presidente da CCRLVT afirmou que, por razões ambientais, não era possível construir na Península de Setúbal um aeroporto alternativo ao da Ota. A seguir, o Ministro Mário Lino alargou esta zona para mais 100 km do Alentejo. É absolutamente necessário estudar estas afirmações. Elas têm, com efeito uma imensa importância. Se não se justificarem, o País pode construir na margem Sul um aeroporto muito mais barato do que o da Ota e com amplas possibilidades de expansão que, manifestamente o servirá muitíssimo melhor. O que há a fazer é, portanto, evitar decisões precipitadas e estudar seriamente é o problema dois aquíferos, para o que devem ser ouvidos os técnicos portugueses competentes e, eventualmente, convidados estrangeiros. Entretanto, devem continuar os estudos do aeroporto da Ota, para, daqui a uns dois anos, podermos avaliar o seu impacto ambiental e comparar o seu custo com alternativas na margem Sul se estas não forem excluídas. Dois anos parece ser tempo suficiente para a questão dos aquíferos ser esclarecida.)
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