No final de
Março, Jim McIlroy, do [jornal australiano] Green Left
Weekly, falou com Farooq Tariq, Secretário Geral do
Partido Trabalhista Paquistanês, em Lahore. O PTP é uma
organização socialista revolucionária que
trabalha juntamente com outras forças com o intuito de pôr
fim à ditadura do general Pervez Musharraf, enquanto procura
unir trabalhadores, camponeses, mulheres e jovens na luta para
instituir o socialismo no Paquistão. A entrevista teve lugar
no meio de uma campanha de advogados e respectivos apoiantes para
recolocar no cargo o entretanto suspenso Chefe de Justiça do
Supremo Tribunal do Paquistão, Iftikhar Mohammad Chaudhry.
Por Jim
McIlroy, Green Left Weekly, 12
Abril 2007
Quando questionado acerca
das causas do actual conflito político, Tariq disse: "O
governo militar, que está no poder há sete anos,
enfrenta sérios problemas e está a tentar suprimir a
oposição. A crise para o regime é muito
profunda."
"Musharraf destituiu o
chefe de justiça na esperança de não ter
quaisquer problemas por isso, como fez (com actos de repressão)
no passado. Ele tem prendido e assassinado pessoas, e conduzido uma
agenda económica neoliberal sem grande resistência até
agora."
"Por exemplo, Musharraf
assassinou Akbar Bugti (líder do Partido Jamhoori Watan do
Baluchistão) em 26 de Agosto do ano passado, juntamente com
alguns dos seus apoiantes."
"Agora, a destituição
do chefe de justiça provocou um movimento a nível
nacional. Inicialmente estava limitado à comunidade de
advogados - e nunca antes tantos advogados fizeram demonstrações
conjuntas em todo o país. As demonstrações dos
"casacos-pretos" têm sido muito determinadas e militantes."
De acordo com Tariq,
"Musharraf não esperava por isso. Isto mostra também
a existência de uma verdadeira divisão no alto nível
da sociedade. O sector judiciário, conhecido como fortemente
pró-militar no passado, está a mostrar verdadeiros
sinais de oposição ao regime."
Alguns partidos políticos
também se juntaram ao movimento. "A Aliança para a
Restauração da Democracia (ARD), uma aliança de
35 partidos e grupos, participou no movimento. Os principais partidos
envolvidos na ARD são o Partido Popular Paquistanês, de
Benazir Bhutto, e a Liga Muçulmana, liderada por Nawaz Sharif
(antigo primeiro-ministro do Paquistão que foi destituído
por Musharraf)."
"O regime está a
enfraquecer, a tornar-se mais impopular a cada dia. Até mesmo
a imprensa capitalista se virou contra o regime."
Tariq explicou que "até
agora, o movimento dos advogados ganhou um tremendo, em grande parte
inactivo, apoio das massas ainda não mobilizadas. Mas esta é
a primeira vez em algum tempo que um assunto que tem ganho a simpatia
das massas não foi iniciado pelos fundamentalistas
(islâmicos). Os fundamentalistas estão a tentar integrar
o movimento, mas este não é visto como um assunto
religioso."
"Ao contrário de
outros países, os advogados sempre tiveram uma papel
progressista na sociedade paquistanesa. Durante o regime militar de
Zia ul Haq (1977-86), as instalações dos tribunais
tornaram-se o centro das actividades democráticas. Muitos
advogados foram presos na altura, por se oporem ao governo. Agora
estão a repetir a história."
"Os regulamentos
internos das Associações de Advogados são muito
democráticos, com eleições anuais, por regra
ganhas por opositores do regime. As Associações de
Advogados nunca aceitaram Musharraf como líder legítimo."
"Jovens advogados estão
agora na liderança. Enfrentam a sua primeira repressão
política, eles têm sido verdadeiros lutadores."
Tariq descreveu a
"difícil decisão" que o PTP tomou de adiar o seu
congresso, que estava marcado para 24 e 25 de Março, para
poder participar de forma mais efectiva neste movimento. "Queremos
participar com todo o empenho nesta campanha porque vemos nela uma
oportunidade de expor a verdadeira natureza do regime, que é
bastante repressiva, e de ajudar a desenvolver a actual disposição
revolucionária entre secções do sector
consciente da sociedade."
"Portanto, a política
do PTP é, por um lado, fortalecer o movimento de massas contra
o regime e, por outro lado, criar também uma oposição
de esquerda ao regime. Somos o único partido de esquerda que
se opôs de forma consistente ao regime com actividades
modestas, realizadas de acordo com os nossos recursos."
De acordo com Tariq, a
sociedade paquistanesa está "dominada pelo crescimento do
fundamentalismo religioso, devido às acções
agressivas do imperialismo americano. As prolongadas ocupações
do Afeganistão e do Iraque estão a promover o
fundamentalismo religioso no Paquistão. A esquerda não
poderá ser uma força alternativa se usar apenas
palavras, e não acções, contra o regime
militar."
Quando questionado acerca
do futuro do movimento, Tariq respondeu: "O regime militar enfrenta
tempos difíceis. Está a perder apoio entre as massas,
devido à sua rápida implementação de
políticas neoliberais. O governo afirma que o rendimento per
capita cresceu de 480 dólares (1999) para 1000 dólares
(2007). O governo afirma que a economia está a crescer, que há
dinheiro nos cofres. E argumenta que o crescimento actual irá
no futuro erradicar a pobreza - o chamado efeito trickle down"
[concentra-se riqueza ao alto nível e esta riqueza irá
finalmente chegar aos sectores mais empobrecidos da população,
desta forma beneficiando toda a sociedade].
"A verdade é que
todas as sondagens independentes mostram que a pobreza tem crescido
no Paquistão, que há mais desemprego e uma maior
monopolização da economia. Assistimos ao colapso da lei
e da ordem, e da segurança; mais homicídios, suicídios
e ataques a mulheres. O crime de rua tem aumentado por todo o lado.
Todos os indicadores sociais descrevem o colapso da sociedade
paquistanesa como um país em desenvolvimento."
Tariq terminou realçando
que o PTP expôs a corrupção generalizada
relacionada com os programas de privatização do regime
de Musharraf, e que uma consciência pública tem crescido
no Paquistão sobre a necessidade da ditadura terminar para que
as condições sociais do povo melhorem.
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