Pequenas
biografias dos que dirigiram o movimento de Maio de 68 francês,
e também dos que participaram, dos que influenciaram e dos que
se opuseram. Textos baseados num dossier preparado pelo Nouvel
Observateur.
Daniel Cohn-Bendit
Tinha 23 anos em Maio de 1968 e
estudava na universidade de Nanterre, nos arredores de Paris. Cria o
Movimento 22 de Março e fica conhecido como "Dany o
vermelho", um dos porta-vozes e líderes da revolta. O
governo aproveita a sua saída do país para lhe retirar
o direito de residência em 22 de Maio, mas volta
clandestinamente uns dias depois. Só em 1978 volta a poder
residir legalmente em França. Em 1984 adere ao partido Verde
alemão, e depois ao francês. É actualmente
eurodeputado.
Alain Geismar
Tinha 28 anos em Maio de 1968.
Trabalhava como professor assistente no laboratório de física
da rua de Ulm e era o secretário-geral do Sindicato Nacional
do Ensino Superior (SNEsup). No dia 3 de Maio, lançou um apelo
à greve geral do Ensino Superior. Depois de 1968, dirigiu uma
organização maoísta, a Esquerda Proletária.
Foi preso em 1970. Inspector-geral de Educação nacional
em 1990, torna-se membro dos gabinetes dos ministros de Educação
nos governos de Michell Rocard e de Edith Cresson. Actualmente é
mestre de conferências do Instituto de Estudos Políticos
de Paris.
Jacques Sauvageot
Tinha 25 anos em Maio de 1968 e
estudava direito e história de arte na Sorbonne. Era militante
estudantil do PSU e vice-presidente da União Nacional dos
Estudantes Franceses (UNEF). Em 3 de Maio, faz parte da delegação
que vai negociar a saída dos polícias de choque que
irrompe no pátio da Sorbonne ocupada pelos estudantes.
Resultado: é preso, junto outros 570 estudantes. Em Maio de
1969, torna-se presidente de honra da UNEF e adere ao PSU de Michel
Rocard. Hoje, é professor de história de arte e
director da Escola de Belas-Artes de Rennes.
Alain Krivine
Tinha 27 anos em Maio de 1968.
Secretário de redacção na editora Hachette,
dirigia a Juventude Comunista Revolucionária (JCR), que ele
mesmo fundara com Henri Weber. Desde o 3 de Maio está na rua
ao lado dos estudantes e é um dos 570 presos quando da invasão
policial à Sorbonne. A JCR é dissolvida em Junho, e
Krivine é preso em Julho, sendo libertado no Outono. Em 1969,
funda a Liga Comunista Revolucionária, da qual é ainda
um dos porta-vozes, junto com Olivier Besancenot.
Jean-Paul Sartre
Tinha 63 anos em Maio de 1968. O
filósofo e escritor defendia o empenhamento político do
intelectual e, coerente com isso, já apoiara os
independentistas argelinos da Frente de Libertação
Nacional (FLN), e a revolução cubana. Militante activo,
defende o Maio de 68 na imprensa (entrevista Cohn-Bendit para o
Nouvel Observateur), e vai à Sorbonne e às
portas das fábricas ocupadas. É ele que lança a
palavra-de-ordem "Eleições, armadilhas de parvos"
(Elections, pièges à con). No plano
internacional, condena, em Agosto de 1968, a intervenção
soviética na Primavera de Praga. Em Maio de 1973, faz parte
dos fundadores do diário Libération. Morre em
Abril de 1980.
Jean-Luc Godard
Tinha 37 anos em Maio de 1968. Cineasta
militante, impulsionador da "Nouvelle Vague" que revoluciona o
cinema francês, envolve-se na acção militante
antes do Maio de 68, como é exemplo o filme "La Chinoise"
(1967). Os anos 60 vêem-no apelar aos técnicos da CGT a
sabotar as intervenções televisivas do presidente De
Gaulle. Esteve à frente da contestação ao
afastamento de Henri Langlois da direcção da
Cinemateca. Em Maio de 1968 interrompe o festival de cinema de
Cannes. Com o grupo "Dziga Vertov", fundado em 1969 com
militantes marxistas-leninistas, entrega-se plenamente durante vários
anos ao cinema político.
Waldeck Rochet
Tinha 63 anos em Maio de 1968.
Secretário-geral do Partido Comunista Francês desde
1964, decidiu "não ir para a insurreição"
que é, aos seus olhos, "a posição
aventureirista de certos grupos ultra-esquerdistas". Prefere, diz,
"agir de forma a que a greve permita satisfazer as reivindicações
essenciais dos trabalhadores e prosseguir, ao mesmo tempo, no plano
político, a acção com vista das mudanças
democráticas necessárias no quadro da legalidade".
Partidário moderado de uma desestalinização do
PCF, toma, pela primeira vez na história do comunismo francês,
distância em relação à União
Soviética, condenando a intervenção do Pacto de
Varsóvia na Checoslováquia (ao contrário do
Partido Comunista Português). Morre a 15 de Fevereiro de 1983.
Georges Seguy
Tinha 44 anos em Maio de 1968. Era há
um ano secretário-geral da Confederação Geral do
Trabalho (CGT) e ficará no posto até 1982. Também
era do bureau político do PCF desde 1960, cargo que deixará
em 1970. A pedido do PCF, a CGT não apoia plenamente o
movimento de Maio de 68, cujo controlo lhe escapa e em relação
ao qual teme o esquerdismo. Para Seguy, trata-se de um movimento
"lançado com grande publicidade que, no nosso ponto de
vista, não tem outro objectivo senão conduzir a classe
operária para aventuras, apoiando-se no movimento dos
estudantes." É um dos principais negociadores dos acordos de
Grenelle, que serão concluídos a 27 de Maio entre
sindicatos, patronato e governo, e apelou ao regresso ao trabalho. Em
1969, criou o Centro Confederal da Juventude (CCJ), rebaptizado
depois em "Jovens-CGT". Hoje é presidente de honra do
Instituto CGT de História Social.
Pierre Mendès-France
Tinha 61 anos em
Maio de 1968. Era deputado por Grenoble sob a bandeira do Partido
Socialista Autónomo (PSA). Figura de referência da
esquerda francesa que estava em processo de reconstrução,
aparece como o homem providencial para a saída da crise. Dá
um apoio tácito ao movimento estudantil ao participar da
assembleia do estádio Charléty no dia 27 de Maio, mas
mantém-se silencioso, o que será muito criticado mais
tarde. "Esse poderia ter sido o momento de uma mutação
profunda", à qual "aspirava uma imensa massa de
franceses", lamentará mais tarde. Em Junho de 1968, é
derrotado nas eleições e abandona o PSA. Em 1969, faz
campanha por gaston Deferre para as presidenciais. Doente, toma
distâncias da vida política francesa e dedica-se ao
conflito do Médio Oriente. Em 1981, apoia a candidatura de
François Mitterrand. Morre em 18 de Outubro de 1982.
O general De Gaulle
Tinha já 77 anos em Maio de 1968
e era o presidente da República francesa desde 1959. Foi
totalmente ultrapassado pelo movimento que classificou de "chienlit",
termo que literalmente significa "defecar na cama" e que foi
usado no sentido de caos, confusão, bagunça, quando ele
disse "Reforma sim, chienlit não". Os cartazes dos
estudantes responderam imediatamente: "La chienlit c'est lui"
(A bagunça é ele). Preferiu o recurso à força
que a política mais conciliadora defendida pelo
primeiro-ministro Georges Pompidou, mas acabou por deixar-lhe a
condução do processo. Os acordos de Grenelle,
concluídos a 27 de Maio entre os sindicatos, o governo e os
patrões representam conquistas sociais mas não resolvem
imediatamente a crise. A 29 de Maio, vaii secretamente a Baden-Baden
reunir-se com os chefes militares; volta e diz na TV: "Não
me vou embora", anunciando a dissolução do Parlamento
e eleições antecipadas. Os seus partidários
organizaram então uma grande manifestação de
apoio. Venceu as eleições, mas renunciou um ano depois
quando recebeu um "não" num referendo sobre a sua proposta
de descentralização. Morreu em 9 de Novembro de 1970.
Maurice Grimaud
Tinha 55 anos em Maio de 1968 e era,
desde 1967, chefe da polícia de Paris. É conhecido por
ser "o homem que evitou o banho de sangue", pelas suas
reticências em relação ao uso da força
contra os manifestantes. No dia 3 de Maio, recusa-se a enviar os CRS
(Polícia de choque) à Sorbonne, mas é De Gaulle
que tem a última palavra: a evacuação dos
estudantes da faculdade é a chispa que ateia fogo à
pólvora. Nomeado secretário-geral da Aviação
Civil em 1971, deixa o público pelo privado em 1975 e em 1981
torna-se director do gabinete do ministro do Interior Gaston Deferre,
e depois conselheiro de Pierre Joxe até 1986. Delegado junto
ao mediador da República até 1992, está hoje na
reforma.
Georges Pompidou
Tinha 57 anos em
Maio de 1968 e era primeiro-ministro desde 1962. Defendeu uma
política de conciliação face à revolta,
consegue convencer o general De Gaulle, depois dos primeiros
conflitos no Quartier Latin, a não continuar a usar a força.
É um dos artífices do acordo de Grenelle, de 27 de Maio
e é ele também que está por trás da
decisão de De Gaulle de dissolver o Parlamento e fazer um
referendo. Reforçado pelas eleições antecipadas
que trazem uma nova vitória da direita, De Gaulle agradece o
seu primeiro-ministro, mas substitui-o por Maurice Couve de Murville.
Depois da renúncia de De Gaulle, no ano seguinte, Pompidou é
eleito presidente em 15 de Junho. Morreu antes do final do mandato,
em 2 de Abril de 1974.
O CRS
Tinha 23 anos em Mao de 1968, era um
homem e andava sempre em grupo. Figura emblemática do
movimento estudantil, pertence às "Companhias Republicanas
de Segurança", as forças móveis criadas em
Dezembro de 1944. Foram utilizadas 40 companhias simultaneamente para
reprimir a revolta. Outras unidades foram igualmente usadas nas
cidades de província. Verdadeiros combates foram travados nas
ruas opondo, de um lado, os CRS, com as suas matracas, gás
lacrimogénio e escudo, e os estudantes nas barricadas, com os
paralelepípedos, os cocktails Molotov e o grito "CRS=SS".
No fim da revolta, os CRS contavam 656 feridos.
Pierre Grappin
Tinha 53 anos em Maio de 1968. Autor do
dicionário franco-alemão "Grappin", ele está,
enquanto decano da Universidade de Nanterre, na primeira linha dos
acontecimentos de 68. No dia 2 de Maio, depois de se saber que oito
líderes do Movimento do 22 de Março foram convocados ao
Conselho Disciplinar, decide, de acordo com o ministro Alain
Peyrefitte, suspender os cursos da Universidade de Nanterre. Morreu
em 1997.
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