Se bem que estas notícias
sejam, na sua maioria, originárias dos EUA, é paradoxal
que seja a Europa a região mais afectada com a actual crise.
Segundo as últimas estimativas a Zona Euro crescerá
1,3% este ano contra 1,6% nos EUA. A explicação para
este assimétrico impacto reside nas diferentes políticas
públicas dos dois blocos económicos.
Graças à
agitação dos mercados financeiros internacionais
aprendemos, ao longo do último ano, o nome de alguns dos
gigantes globais destes mercados. Merryl Linch, CityGroup, UBS, Bear
and Sterns, Societé Generale são algumas das mega
instituições a ocupar quotidianamente as páginas
dos jornais devido aos prejuízos sofridos com a crise que se
instalou desde Agosto do ano passado. Infelizmente, é hoje
claro que a vertigem e irresponsabilidade do comportamento destes
agentes nos últimos anos - avalizadas pelos poderes
públicos, depois de décadas de liberalização,
desregulamentação e privatização nos
mercados financeiros - não afectam só os seus
accionistas e trabalhadores. O racionamento do crédito nos
mercados financeiros traduziu-se numa abrupta desaceleração
da economia global a que poucos países escapam e que já
bem sentimos no nosso dia-a-dia, seja no aumento do desemprego ou no
galopante valor das prestações dos créditos
imobiliários.
No entanto, um ano depois,
estamos longe de poder afirmar que o pior já passou. O mercado
imobiliário norte-americano continua em crise. Os preços
da habitação caem mês após mês e o
número de familias em dificuldade nos pagamentos das suas
prestações não pára de crescer. Assim,
nos últimos dias assistimos à nacionalização
de facto - com um custo de alguns milhares de milhões de
dólares - das sociedades de crédito hipotecário
Fannie Mae e Freddie Mac, duas agências que, em conjunto,
asseguram 80% das hipotecas imobiliárias norte-americanas.
Entendidas como garantes de todo o sistema de crédito
imobiliário, a falência destas agências abriria as
portas a uma autêntica catástrofe nos mercados
financeiros. Contudo, quando ainda procurávamos perceber as
implicações desta decisão do Tesouro
norte-americano, logo fomos informados de mais uma grande instituição
financeira em risco de colapso: o banco de investimento
norte-americano Lehman Brothers. Mais vítimas neste massacre
financeiro internacional se avistam no futuro próximo. Segundo
a revista The Economist de 30 de Agosto, o número de
bancos comerciais norte-americanos em situação
periclitante tem vindo a crescer, totalizando já o preocupante
número de 117 bancos sob atenta vigilância pelo poder
público.
Se bem que estas notícias
sejam, na sua maioria, originárias dos EUA, é paradoxal
que seja a Europa a região mais afectada com a actual crise.
Segundo as últimas estimativas a Zona Euro crescerá
1,3% este ano contra 1,6% nos EUA. A explicação para
este assimétrico impacto reside nas diferentes políticas
públicas dos dois blocos económicos. Enquanto nos EUA,
o Federal Reserve baixou consecutivamente as suas taxas directoras e
o Governo promoveu um conjunto de medidas de estímulo da
economia real, o Banco Central Europeu permanece inabalável na
manutenção das suas taxas directoras - em nome do
combate à inflação - ao mesmo tempo que os
diferentes Governos se encontram sob os austeros e discricionários
limites do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Entretanto, o BCE já
anunciou uma redução das injecções de
liquidez que têm mantido o sistema financeiro europeu à
tona. É, pois, urgente uma viragem na política
económica europeia.
Nuno Teles
Co-autor do Blogue Ladrões de bicicletas
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