Há um século, era normal em muitas actividades que houvesse
uma fila de trabalhadores, de madrugada, à espera de ser escolhidos, para esse
dia de trabalho, pelo engajador. Passaram 100 anos. E levamos, para nossa
desdita, com o governo do engenheiro.
Neo-liberal de quatro costados, a coberto do nome "socialista", este governo
fabricou leis de trabalho, de trabalho temporário, e de trabalho na função
pública que os seus antecessores cavaquistas e barrosistas nunca conseguiram
impor. O PS de Sócrates fez o trabalho da direita, melhor do que essa mesma
direita foi capaz. E o mercado de trabalho voltou a ser a feira dos
engajadores.
Opinião de José Pedro Fernandes
Voltamos a ter como regra e não como excepção dois tipos de
trabalhadores: os que ganham 14 meses e têm alguma estabilidade de emprego
(muito embora pressionados para sair) e os que ganham 12 meses, ganham mal,
pagam ao engajador um tanto, e não sabem
o que lhes vai acontecer no mês seguinte.
E para as empresas tudo passou a poder ser trabalho
temporário: o correio tem de ser distribuído todos os dias, mas pode haver um
dia sem correio, é trabalho temporário; os camiões têm de ser carregados todos
os dias, mas pode haver um dia sem carga, é trabalho temporário. Etc, etc....
Disse há dias o engenheiro que enquanto governassem e os
outros criticassem, as coisas estavam bem. É verdade: para empresários e
engajadores ("vitalinos") as coisas vão bem. Esse é o cerne da questão: as
coisas vão bem para quem? A resposta a isso separa a direita da esquerda.
Se o delírio barroso-socrateiro for levado às últimas
consequências, ainda veremos secretários de estado a serem contratados à
semana!
Só uma coisinha parece não estar a correr bem: as
manifestações são cada vez maiores, as notícias da Grécia (outro paraíso
neo-liberal) dizem-nos mesmo que as coisas vão endurecer, um pouco por todo o
lado, porque o que está em causa é ver quem vai pagar a factura da crise, e a
esquerda começa a encarnar a esperança de muita gente.
Cá se fazem, cá se pagam, engenheiro! Vamos a isso!
José Pedro Fernandes
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