Felizmente que a lucidez sobre o que está verdadeiramente em
causa na falta de entendimento entre professores e Ministério da Educação nos
proporcionam "olhares diferentes" como o do Padre Amadeu Pinto, director do
Colégio São João de Brito (Notícias Magazine em 14 de Dezembro). É que perante
tanta teimosia que se apoderou não só da Ministra e sua equipa, mas do próprio primeiro-ministro,
José Sócrates, não haverá dúvidas, como alerta o Padre Amadeu, que, "A
manter-se a situação, o ano lectivo é para esquecer. É mais um pernicioso
contributo, entre outros, para a hipoteca da sociedade portuguesa de amanhã".
Opinião de José Lopes.
Uma realidade já reconhecida em meio escolar perante o
desgaste de uma luta contra a intolerância, que curiosamente a Conferencia
Episcopal Portuguesa, classifica o polémico modelo de avaliação de desempenho
dos professores, como uma medida "sustentada em trabalhos técnicos de gabinete"
ou seja, como afirma com clarividência, Amadeu Pinto, "imposta por decretos
regulamentados ao infinito, como é próprio de quem manda por ter poder, e não
tanto pela razão que lhe assiste". Mas o cronista deste "olhar diferente" toca
numa questão fundamental desta luta, como é o facto de o Ministério ignorar,
neste processo, que, se "deve valorizar a diversidade de escolas e contextos",
não desprezando, como todos os responsáveis por este tipo de política e modelo
estão a desprezar objectivamente a liberdade de actuação dos professores, cada
vez mais manietados a lógicas de produção em série, inaceitáveis na educação,
pois como diz ainda, "a falta de liberdade e autonomia desresponsabiliza-os e
aniquila-lhes a criatividade indispensável à missão educativa" a que têm de
saber responder, embora a tendência de tais politicas educativas sejam para
desvalorizar o "inesperado" que o Padre Amadeu refere, "no saber acudir ao
inesperado que há em cada aluno em formação, como pessoa, sendo que todos são
diferentes e hão-de ser tratados consoante". Assim esta convicção se estenda á
sociedade, como uma componente decisiva na Educação e na humanização do meio
escolar.
Que se reproduzam estes "olhares diferentes", porque da
tutela não surgem sinais de os querer entender, mesmo com uma sociedade mais desperta
para a realidade das consequências de um modelo absurdo, elaborado essencialmente
para afrontar e dividir uma classe profissional, que reagiu unindo-se, mas que
teimosamente o ME não quer compreender, falhada que foi a estratégia de desprestigiar
os docentes perante a sociedade, que, depois de alguma passividade e até
aceitação, começa finalmente a reagir e a reconhecer as razões de tanta
teimosia.
José Lopes (Ovar)
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