Nas eleições legislativas regionais dos Açores, realizadas a
19 de Outubro de 2008, o Bloco de Esquerda foi o único partido que subiu em
número de votos, triplicando o resultado obtido em 2004 e elegendo dois
deputados (Zuraida Soares e José Cascalho) para a Assembleia Regional. Para o
jornal Esquerda 32 entrevistámos José Cascalho.
Entrevista de Carlos Santos.
Em primeiro lugar,
peço-te uns dados mínimos sobre ti. Sabemos que és professor universitário...
José Cascalho (JC): A minha idade é 41 anos, nasci em
Lisboa, vivo aqui na Terceira, nos Açores, com a minha família há dez/onze
anos. A minha formação é engenharia e dou aulas de educação neste momento.
Estavas à espera de
ser eleito?
JC: Não estava não.
Que achas dos
resultados destas eleições?
JC: São resultados surpreendentes por um lado, pelo Bloco ter
tido tantos votos. Mas por outro lado são um pouco assustadores, porque houve
pouca participação das pessoas.
Houve uma votação inferior a 50%, isso significa é preciso fazer
um trabalho político junto das pessoas, para que percebam que a política é
importante para elas.
Porque achas que há
essa abstenção tão grande?
JC: Não sei bem as razões da abstenção. Nos Açores a abstenção
sempre foi muito elevada.
Há algum descontentamento, como é óbvio, e acho que as
pessoas também estão preocupadas com a sua vida com o seu dia-a-dia e não
acreditam muito que ele melhore, penso eu.
Aqui nos Açores, as pessoas vivem muito no seu mundo, no seu
espaço fechado, e as relações estabelecem-se, sobretudo nas ilhas mais
pequenas, entre as pessoas que estão à volta e resolvem-se os problemas desta
maneira.
Os políticos, de uma maneira geral, estão muito longe das pessoas,
muito afastados da realidade, acho eu.
O que achas que vai
mudar com a eleição de dois deputados do Bloco de Esquerda?
JC: Vão haver questões colocadas que não o eram antes e isso
é muito importante. A diversidade é muito importante...
Por exemplo...
JC: Há questões pelas quais o Bloco sempre tem lutado. Uma delas
é a questão das Lajes, que é muito incómoda para a região: os direitos dos
trabalhadores das Lajes não têm sido defendidos. Outra questão tem a ver com o
modelo económico.
O nosso modelo económico de desenvolvimento é baseado muito
na construção civil e nos subsídios e é preciso pensar no futuro, porque
eventualmente os subsídios europeus vão acabar. É preciso pensar como é que a
sociedade açoriana pode modificar a sua estrutura produtiva, de forma a que
possa ter mais autonomia e não depender tanto dos subsídios.
Há um conjunto de coisas que é preciso repensar para que o
futuro seja melhor aqui nos Açores, não quer dizer que não tenha havido
evolução, não quer dizer que não hajam iniciativas interessantes do governo
relativamente a certas coisas, mas é preciso pensar no futuro e numa maior
sustentabilidade da região e sobretudo apostar também na questão da formação.
A formação é um aspecto muito importante, ela é muito baixa
nos Açores. É preciso aumentar o número de pessoas que são licenciadas e isso
implica que é preciso estabelecer um plano político, um objectivo político, que
relativamente à educação tem que ser necessariamente ambicioso, numa região
como esta.
Desde o dia em que
foste eleito o que mudou na tua vida e na relação com as pessoas?
JC: As pessoas têm-me cumprimentado e dado os parabéns.
De uma forma geral, esperam alguma coisa do Bloco de
Esquerda, esperam que seja uma voz diferente.
Há outras pessoas que esperam que eu defenda a ilha Terceira,
muitos terceirenses dizem isso, para eles isso significa que a ilha não seja
posta de lado ou que os serviços não fujam todos para São Miguel...
Sempre houve aqui nos Açores uma disputa sobre qual devia ser
a ilha que devia ter o poder, quem devia governar e quais os serviços que
deviam estar numa ilha ou noutra. Isso é uma questão muito latente aqui nos
terceirenses. De uma maneira geral as pessoas têm sido muito positivas.
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