A entrevista do ministro Luís Amado e a questão do referendo |
29-Jun-2007 | |
![]() Um aspecto em que Luís Amado foi bem mais concreto do que Sócrates tem a ver com a explicação das razões para que o governo português não se pronuncie, de momento, sobre a ratificação em referendo. Não é (ou não é só) porque, não havendo ainda Tratado, seria prematuro decidir como se ratifica, como afirmou Sócrates. É sobretudo porque, tendo o nosso governo a responsabilidade de presidir ao Conselho e a todo o processo durante os próximos seis meses, uma assunção favorável ao referendo criaria problemas agravados aos governos francês, holandês e inglês, entre outros. Amado disse e é verdade. Mas é também pela mesma razão que nós temos que tomar a posição contrária. Há uma razão de fundo, que sempre defendemos, que se prende com o reconhecimento do direito do povo português se pronunciar, com carácter vinculativo, sobre uma questão central que afecta a sua vida individual e colectiva, tendo em conta que ficou plenamente demonstrado até que ponto a opinião dos parlamentos, infelizmente, não corresponde à opinião dos povos. Mas, a essa razão de fundo, vem juntar-se agora uma outra, na linha da que o ministro menciona: uma capitulação da exigência de referendo no país que vai presidir ao processo de elaboração do Tratado seria uma traição ao respeito e à solidariedade que a esquerda portuguesa deve àqueles povos que, com o seu voto, conseguiram travar um processo negativo para toda a União, e em cujos países a exigência de um referendo é absolutamente inquestionável. À solidariedade que Sócrates e Amado revelam face às dificuldades de Sarkozy, de Balkenende ou de Brown, há que opor a solidariedade do povo português aos povos da França, da Holanda, do Reino Unido e de toda a UE. A cada um as suas solidariedades. Poder-se-ia (discordando) quase entender a posição do governo, mais enredado nas suas teias diplomáticas e nos compromissos do Conselho do que nos seus próprios compromissos eleitorais com os portugueses. Mas não se pode perdoar a traição capituladora dos eleitos socialistas que demonstram, mais uma vez, a inutilidade de um grupo parlamentar a que o voto de milhões de eleitores atribuiu mais de metade dos assentos na Assembleia da República. Alterar esta situação será uma condição essencial para começar a resolver os problemas, na Europa como em Portugal. À capitulação dos socialistas em toda a Europa e ao seu conluio com os partidos da direita, há que opor a construção de novos, amplos e plurais movimentos e partidos que resgatem a ideia de uma nova Europa social que, por estar ao serviço da maioria dos cidadãos, não terá medo de lhes dar a palavra nos momentos decisivos. Renato Soeiro |